Pesquisadores analisam potencialidades do Corredor Bioceânico

Postado por: Larissa Leal

Sonhado há décadas pelas autoridades e comunidades do Brasil, Paraguai, Argentina e Chile, o Corredor Bioceânico trará impactos para a população e para o desenvolvimento das regiões alcançadas pelo traçado internacional.

Para identificar as oportunidades e desafios gerados pela obra, pesquisadores do Projeto Multidisciplinar Corredor Bioceânico estão realizando estudos nas áreas de Logística, Economia, Turismo, Direito e História. O projeto de pesquisa e extensão é coordenado pelo Prof. Dr. Erick Wilke, da Escola de Administração e Negócios (ESAN) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

O corredor consiste em uma rota rodoviária que possibilitará a conexão viária do Centro-Oeste brasileiro aos portos chilenos de Antofagasta e Iquique, no Pacífico. O nome bioceânico se refere ao traçado que permitirá a ligação entre os oceanos Atlântico (Porto de Paranaguá) e Pacífico (Portos de Antofagasta e Iquique). O trajeto passará por cidades do Brasil, como Campo Grande e Porto Murtinho, do Paraguai, da Argentina e do Chile.

Uma das principais obras do corredor é a ponte sobre o Rio Paraguai, que deve começar a ser construída em 2021. Com extensão de 680 metros, a ponte ligará os municípios de Porto Murtinho e Carmelo Peralta (Paraguai).

A obra vai proporcionar mais competitividade no escoamento da produção agrícola e industrial, com redução de 23% do tempo de viagem (12 dias a menos) para a China, por exemplo, em comparação ao trajeto pelo Porto de Santos (SP) e redução do custo do transporte rodoviário para exportações e importações, conforme dados da Empresa de Planejamento e Logística (EPL).

A China é o principal destino das exportações de Mato Grosso do Sul, representando 47,73% das vendas externas de acordo com o Governo do Estado. Além disso, o corredor irá promover a abertura de novos mercados e a integração da região do entorno do trajeto nos quatro países.

No Projeto Multidisciplinar, estão sendo realizadas pesquisas centradas em resultados consistentes para a promoção do desenvolvimento econômico e social nos territórios por onde o Corredor Bioceânico passará. “O papel da universidade é levantar e gerar dados e informações por meio da pesquisa para que as autoridades e demais atores envolvidos nesse projeto possam tomar as melhores decisões possíveis. A ideia é conduzir esses resultados de imediato à sociedade por meio das ações de extensão”, explica o coordenador do projeto, Erick Wilke.

O projeto poderá beneficiar gestores públicos municipais; entidades associativas de classe; líderes comunitários; empresas do setor de transporte e logística e do setor de turismo; pequenos e microprodutores e empreendedores, agricultores de base familiar e sociedade civil em geral.

A importância da pesquisa para o planejamento de ações da iniciativa pública e privada é destacada pelo ministro João Carlos Parkinson de Castro, que é o coordenador Nacional dos Corredores Rodoviário e Ferroviário Bioceânicos e coordenador-geral de Assuntos Econômicos Latino-Americanos e Caribenhos do Ministério das Relações Exteriores.

“No desenvolvimento do corredor, fui o mentor do grupo universitário e tenho estimulado, desde a sua criação, o pensamento no sentido de procurar dar assistência aos governos centrais e locais para solução de determinados problemas”, afirma Parkinson.

Contribuições da pesquisa

Para o ministro João Carlos Parkinson, um dos aspectos que a universidade pode contribuir é com relação ao impacto social. “A infraestrutura física quando é implantada gera externalidades positivas e negativas. As positivas vão ser exploradas pelo setor privado, como os novos fluxos de comércio, novos investimentos, mais emprego, acesso à tecnologia. Agora tem as questões negativas que são igualmente importantes, como, por exemplo, o aumento do consumo da droga, como a modernidade vai conviver com as culturas tradicionais. São questões em que é importante abrir o espaço para o pensamento, para a ação universitária”, analisa.

Em âmbito estadual, o secretário titular da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, explica que, nesta fase inicial, o planejamento do Governo do Estado está voltado para as políticas públicas relacionadas ao desenvolvimento logístico para garantir a competitividade dos produtos sul-mato-grossenses no mercado asiático e que a pesquisa acadêmica poderá contribuir para futuras abordagens relacionadas às regiões impactadas pelo corredor.

“Toda a lógica do eixo de desenvolvimento logístico nós encaramos dentro do nosso projeto estratégico, só que isso não seria bastante para envolver todos os outros países numa lógica de desenvolvimento. Queremos desenvolver toda a nossa região sudoeste, no contexto regional e local. A partir daí, surge uma série de opções sob o ponto de vista da pesquisa onde nós temos que fazer o projeto de desenvolvimento local, inserindo as pessoas, a cultura dessas pessoas, as vocações regionais para que elas se apropriem de todo o processo de desenvolvimento. Acredito que é essa a grande relevância da pesquisa”, avalia o secretário estadual.

Jaime Verruck explica que a elaboração de políticas públicas é feita com base em estratégia e indicadores e que a pesquisa pode ser um fator relevante nesse processo. “As pesquisas das universidades têm um papel fundamental para que, através da ciência, a gente consiga tomar decisões e avaliações de políticas públicas corretas. Temos uma grande responsabilidade, essas comunidades não vão conseguir ser autônomas na apropriação desse desenvolvimento, temos que ajudá-las para que elas construam os próprios projetos. Se não tiver o poder da política pública em cada um dos países para que essas comunidades se apropriem desse processo de desenvolvimento, nós não vamos conseguir chegar lá”, destaca.

Eixos de pesquisa

São cinco eixos prioritários: Economia, com Profa. Luciane Cristina Carvalho (ESAN/UFMS) e Prof. Edgar Aparecido da Costa (CPAN/UFMS);  Turismo, com Profa. Débora Fittipaldi Gonçalves (UEMS); Logística, com Prof. Francisco Bayardo Barbosa (FAENG/UFMS); Direito, com Ynes da Silva Félix (FADIR/UFMS) e História, com o historiador Eronildo Barbosa.

“A construção dos eixos foi um esforço conjunto com a reitoria da UFMS e a Pró-Reitoria de Extensão diante da necessidade de gerar trabalhos práticos e resultados mais contundentes. São temas essenciais que estão sendo investigados por profissionais que já estavam realizando pesquisas sobre o corredor bioceânico ou que demonstraram interesse em aprofundar o conhecimento sobre o assunto”, afirma o coordenador do projeto, Erick Wilke.

Extensão

Por ser um projeto de pesquisa e extensão, há a preocupação em levar o conhecimento produzido pela universidade para a comunidade em geral, por meio de cursos, minicursos, reuniões técnicas, oficinas e seminários, conforme cada eixo de pesquisa. De acordo com o pró-reitor de Extensão, Cultura e Esporte (Proece) da UFMS, Prof. Dr. Marcelo Fernandes Pereira, a extensão tem como premissas a formação do aluno e a relação dialógica com a comunidade. Ao mesmo tempo em que a universidade recebe informações da população sobre demandas cotidianas, também entrega conhecimento produzido com a pesquisa.

“O projeto da rota bioceânica está calcado na relação indissociável da pesquisa com a extensão. É um projeto de pesquisa que pretende levar até as comunidades o nosso conhecimento, a nossa produção acadêmica, que prevê a entrega de conhecimento e formação local”, destaca o pró-reitor lembrando que a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão está prevista na Constituição Federal (art. 207) e no Estatuto da UFMS (art. 1º).

Recursos

Os recursos que viabilizaram a realização do Projeto Multidisciplinar são oriundos de emenda parlamentar do deputado federal Vander Loubet (PT/MS). Ele é natural de Porto Murtinho e trabalhou com o ex-governador José Orcírio Miranda dos Santos junto à Embaixada do Paraguai em Brasília para viabilizar a entrada da Itaipu Binacional no projeto. A empresa irá financiar a construção da ponte entre Porto Murtinho e Carmelo Peralta, obra que é fundamental para viabilizar o funcionamento do corredor bioceânico. “Com o projeto em andamento, percebemos que algumas áreas não seriam contempladas pelos estudos de impacto econômico que seriam feitos, por isso resolvemos buscar a Universidade Federal para que analisasse essas áreas”, explica o deputado federal que já destinou outras emendas parlamentares e recursos para a UFMS.

Vander Loubet lembra que o corredor bioceânico vai impactar o Estado não apenas na questão econômica, em relação ao agronegócio e exportações, como também aspectos ligados ao turismo, à cultura e até mesmo aos pequenos empreendimentos, como a agricultura familiar.

“Acredito que essa pesquisa vai poder complementar aquilo que está sendo estudado pelo Governo do Estado. O Estado está focado com o macro, em questões alfandegárias, de arrecadação, de oportunidades para o agronegócio e a indústria. Mas é importante que a gente tenha a dimensão total do que vai representar esse corredor, desde Campo Grande até Murtinho. A Universidade não pode ficar restrita apenas ao mundo acadêmico, acredito que é fundamental que ela possa fazer parte do dia a dia da população e esse tipo de pesquisa é uma forma de fazer isso”, avalia o parlamentar.

Vanguarda

O Projeto Multidisciplinar representa uma extensão do somatório de esforços e ações em torno do tema central Corredor Bioceânico. “Este projeto coloca a UFMS na vanguarda da discussão da rota bioceânica na medida em que ao pesquisar o cenário atual pensando em perspectivas futuras, antes da obra física ser executada, a universidade está cumprindo um papel muito mais importante do que sanar problemas ou deficiências do nosso momento, estamos impedindo uma série de problemas futuros relacionados à logística, à infraestrutura e aos impactos sociais do projeto, e também estamos olhando para as potencialidades que estão se delineando neste momento”, avalia o pró-reitor de extensão da UFMS, Marcelo Fernandes.

Os impactos da construção da rota também estão sendo debatidos pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul em eventos e projetos como a UniRILA (Rede Universitária da Rota de Integração Latino Americana), que é formada ainda pelas seguintes universidades brasileiras: Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Universidade Católica Dom Bosco, Instituto Federal de Mato Grosso do Sul e UNILA; e estrangeiras: Paraguai (Universidade Nacional de Assunção); Argentina (Universidade Nacional de Salta) e Chile (Universidade Católica do Norte do Chile).


Por: Assessoria de Comunicação do Projeto Multidisciplinar Corredor Bioceânico